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Em um giro digno de novela política, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avalia uma investida direta na Casa Branca para tentar reverter a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, anunciada em 9 de julho de 2025. A ideia, sugerida por aliados, seria usar um telefonema intermediado por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para mostrar força e tirar o foco da narrativa da esquerda, que culpa o deputado licenciado por articular a sanção nos EUA contra o STF. Mas, enquanto Bolsonaro tenta se reposicionar como salvador da pátria, o plano carrega riscos que podem afundar ainda mais sua imagem – e, ironicamente, fortalecer o governo Lula que tanto critica.
A estratégia de Bolsonaro visa neutralizar o discurso petista, que explora o tarifaço como prova de sua suposta responsabilidade, mobilizando a militância em torno da “defesa da soberania nacional”. Até esta quinta-feira, 10 de julho, aliados do ex-presidente admitem que a medida tem sido um tiro no pé para a direita, dando munição ao PT e suspendendo pautas bolsonaristas, como o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. A narrativa de que Eduardo sozinho teria movido os pauzinhos com Trump está se cristalizando, e Bolsonaro quer apagar esse rastro com um gesto de liderança contra Lula, acusado de imobilismo no Planalto e no Itamaraty.
O cerne da justificativa, segundo Bolsonaro, está na Cúpula do Brics no Brasil, que Trump teria visto como afronta aos EUA – especialmente por incluir a Venezuela, um ponto sensível para o americano. Aliados alegam que a falta de negociação de Lula com a Casa Branca pavimentou o caminho para a sanção, mas a teoria soa mais como desespero para desviar a culpa do imbróglio diplomático. A proposta é mostrar que o governo atual, com sua “alta impopularidade”, falhou onde Bolsonaro poderia triunfar, reerguendo sua imagem perante os apoiadores.
Porém, o plano é uma roleta russa. Se Trump ignorar o apelo e manter a tarifa, o discurso da esquerda – de que Bolsonaro é o vilão – ganhará ainda mais tração. Pior: uma eventual revisão da sanção acompanhada de sanções a autoridades brasileiras, como cogitado no processo contra Bolsonaro no STF, poderia transformá-lo em alvo direto da Corte. Enquanto isso, o mercado já sente o baque, com o dólar a R$ 5,54 e o Ibovespa em 136.571 pontos, e o brasileiro assiste a mais um capítulo de uma guerra política que promete mais fumaça do que soluções.